Como os parques beneficiam economicamente as cidades? Esta foi a pergunta que um grupo de economistas e especialistas em parques tentaram responder em um encontro convocado pelo Centro de Cidades de Parques de Excelência, pertencente a organização Trust for Public Land (TPL) que se dedica a construir parques urbanos.
A pergunta surgiu no contexto em que existem fatores econômicos relacionados aos parques que não podem ser quantificados, como por exemplo, os benefícios de um passeio no parque para a saúde mental. Contudo, um grupo de especialistas considerou que nos parques existem sete atributos que, sim, podem ser medidos e que, sim, representam um valor econômico.
A seguir apresentaremos em que consiste cada um.
Aumento do valor de lazer de uma propiedade
Para os economistas, um valor hedônico é quando as pessoas estão dispostas a pagar mais por uma casa que está próxima a certos lugares que são visitados frequentemente, como colégios, hospitais ou parques, Independente do tipo de lugar, este valor é suscetível a dois fatores: a distância e a qualidade.
No caso de uma propriedade que está a 600 metros de um parque, esta possui um valor superior em comparação com as moradias que estão mais longe. O maior valor se concentra nas que estão nos primeiros 150 metros. Em relação a qualidade, é mais atrativo um parque que esteja bem cuidado com áreas verdes e equipamentos. Ao contrário, um parque descuidado, com pouca iluminação e vegetação pode reduzir a mais-valia das moradias próximas.
Com o objetivo de determinar o aumento do preço de uma moradia próxima a um parque, os especialistas utilizaram um Sistema de Informação Geográfica (SIG) que identificou as propriedades localizadas a 150 metros de um parque. Através delas percebeu-se que seu valor aumenta 5% quanto a avaliação das áreas verdes. Além disso, identificou-se que as moradias que estão próximas (150 metros) de um parque de muito boa qualidade, podem aumentar seu valor em até 15%, enquanto as que estão próximas de um parque de baixa qualidade podem diminuir seu preço em 5%.
Turismo
Em 2011, Santiago foi eleita pelo New York Times como o melhor destino e com isso se recomendava visitar, entre outros lugares, o bairro Bellavista, o Palacio de La Moneda, a Plaza de Armas e o Parque Metropolitano (PMS). Ao incluir este último, cumpre-se uma das afirmações da organização Trust for Public Land que considera indispensável incluir parques entre os lugares que se aconselha conhecer devido ao fato de que são lugares de interesse público turístico que influenciam na economia de uma cidade.
Contudo, como muito poucas cidades gestionam dados sobre qual é a origem dos turistas e quanto gastam em um parque, o papel dessas áreas verdes na economia não está muito claro. Por isso, para ter uma ideia, a organização propôs o seguinte cálculo:
1. Estimar o número de turistas que visitam um parque, entendendo como turistas os que não vivem na cidade em questão.
2. Esta quantidade se reduz segundo os turistas que foram até o parque considerando-o como um destino turístico em si.
3. Este número se divide entre os visitantes diurnos (gastam menos) e noturnos (gastam mais).
4. Cada grupo é multiplicado pela média de gastos de um turista na cidade em diversas áreas.
5. Finalmente, o imposto de renda de uma cidade ,produto de um parque, pode ser estimado multiplicando o gasto turístico do parque pela mudança fiscal.
Usos diretos
Este término se aplica quando os visitantes realizam atividades no parque que são possíveis por suas características espaciais como andar de bicicleta, caminhar pelos passeios, fazer um piquenique.
Apesar dessas atividades serem gratuitas na maioria dos parques, os especialistas propõe que para saber o custo que teria cada atividade, se fosse decidido que elas seriam cobradas, pode-se comparar com alguma que seja parecida e privada, e que tenha, em média, o mesmo custo. Desta maneira, é possível saber qual seria a quantidade de dinheiro que uma pessoa pode gastar em atividades que realiza comumente, se optar por parques públicos.
Saúde
Se as pessoas têm acesso aos parques, pode ser que realizem algum exercício mais frequentemente, segundo a pesquisa, gerando muitos benefícios a saúde.
Para estimar quanto é possível economizar quando se utiliza os parques para fazer exercício, foram tomadas como base doenças que são mais típicas quando não se pratica nenhum esporte, como diabetes e problemas cardíacos. Assim, estabeleceu-se agregar aos gastos uma diferença de US$250 entre os que fazem exercício regularmente e os que não o fazem. No caso dos maiores de 65 anos, este número foi de US$500 devido ao fato de que os mais idosos tendem a possuir gastos maiores com a saúde.
Depois, estimou-se o número de usuários que vão ao parque fazer algum esporte, entendendo-os como aqueles que vão por 30 minutos, três vezes por semana, fazer alguma atividade moderada (sem contar as pessoas que vão apenas sentar-se ou fazer um piquenique). Assim, a cada grupo foi somada a quantidade de dólares correspondente ao seu nível de atividade física.
Coesão da comunidade
Os parques têm a possibilidade de serem um ponto de encontro para os vizinhos, que conformam um “capital social” - término criado por Jane Jacobs - que pode fortalecer os bairros e, em certa medida, as cidades.
Apesar deste valor social não ser quantificável, é possível estimá-lo a partir dos investimentos que fazem os voluntários nos parques, seja através de jornadas de limpeza, construindo brinquedos infantis, capacitando os vizinhos sobre o cuidado com o lugar, entre outras opções. A estes gastos, somaria-se as horas investidas, que apesar de serem voluntários, sim, é possível atribuir-lhes um valor econômico.
Água limpa
Usando fotos aéreas, o Serviço Florestal dos Estados Unidos desenvolveu um modelo para calcular a redução de escorrimento de águas pluviais diante da presença dos parques. Por um lado, foi necessário estimar a quantidade de superfícies cobertas por áreas verdes e água, e por outro, classificá-las como impermeáveis (rodovias, ruas, edifícios) e permeáveis (cemitérios, campus universitários e parques).
A esses dados foram agregados outros do Serviço Meteorológico obtidos através das precipitações e seus horários anuais, que em conjunto permitiram saber o nível de escorrimento anual das águas pluviais. Assim, foi possível comparar o escorrimento entre as cidades do mesmo tamanho e nível de desenvolvimento, mas com diferentes quantidades de parques.
Por último, com os preços da infraestrutura para gestionar as águas pluviais e a quantidade de água que os parques retêm, é possível agregar um valor econômico a redução da contaminação da água dos parques.
Ar puro
Os parques urbanos possuem um importante papel na diminuição da contaminação atmosférica, já que as folhas são capazes de absorver os gases, enquanto o resto da planta retém as partículas. Desta maneira, se existem parques com vegetação suficiente vai ser possível diminuir os efeitos dos gases contaminantes que afetam a saúde da população e ocasionam gastos mais frequentes na manutenção da infraestrutura (em relação a limpeza).
A contribuição que os parques têm no melhoramento da qualidade do ar foi medida pelos especialistas ao estabelecer uma relação entre a eliminação da contaminação e o valor das árvores.
Usando fotografias aéreas dos parques públicos de uma cidade se obtém a superfície que as árvores cobrem. Assim, calcula-se o fluxo contaminante que corresponde aos gases nocivos que circulam por uma superfície em um período de tempo determinado. Depois, este fluxo é multiplicado pela cobertura das árvores para estimar a diminuição da contaminação atmosférica.
Com isso, é atribuído um valor econômico para cada gás - que varia de acordo com a cidade e o país -para saber sua exterioridade, ou seja, quanto custaria para evitar que uma unidade deste contaminante seja emitida na atmosfera. De acordo com a pesquisa, uma tonelada de monóxido de carbono apresenta uma exterioridade de US$870, enquanto o dióxido de enxofre, na mesma quantidade, custa US$1.500.
Baixe o relatório da pesquisa aqui.
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